71 anos de Caetano Veloso

Caetano, na época do exílio, em Londres


"As rádios de Salvador não pararam de tocar canções de Caetano veloso naquele 7 de janeiro de 1971. Da antiga "Um Dia" à novíssima London London, passando pela inevitável "Alegria, Alegria", as emissoras soteropolitanas festejavam dessa maneira o retorno do compositor à Bahia, depois de um ano e meio fora do país. Na verdade, não se tratava de um volta definitiva, mas apenas uma visita devidamente permitida pelas autoridades militares. Coma intermediação de Benil Santos, seu empresário, Maria Betânia conseguira autorização para que o irmão pudesse assistir à missa comemorativa das bodas de rubi de seu Zezinho e dona Canô, casados havia 40 anos.


Na véspera, quando desembarcou no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, Caetano não imaginava o tipo de recepção que o esperava. Mal o avião o aterrissou, ainda na pista foi abordado por policiais, que o fizeram entrar em um fusca, deixando Dedé (Bethânia) atônita. Levado para um aparelho clandestino do Exército, na avenida Presidente Vargas, Caetano foi interrogado durante seis horas. Entre várias intimidações, os militares chegaram a chantageá-lo, dizendo que só o soltariam se ele fizesse uma canção favorável à construção da rodovia Transamazônica.

Caetano precisou de muito tato e sangue frio para conseguir se safar da situação. Para intimidá-lo mais ainda, chegaram a citar nomes de artistas conhecidos, dizendo que eles seriam dedos-duros infiltrados na classe artística. Ao final do longo interrogatório, deixando transparecer que estavam preocupados com o que o compositor pudesse dizer à imprensa, os militares fizeram uma lista de imposições: Caetano só poderia dar entrevistas por escrito, estava impedido de raspar a barba ou cortar o cabelo durante sua estadia no país e teria que fazer uma apresentação na TV determinada por eles.

Se saíra de Londres pensando que a licença para entrar no Brasil poderia ser o primeiro passo para a sua volta definitiva ao país, depois da 'calorosa' recepção no aeroporto, Caetano mudou de ideia. Em Salvador, ele e Dedé perceberam logo que estavam sendo espionados todo o tempo. No dia em que resolveu dar um passeio em uma fazenda, fora do perímetro urbano, Caetano não só foi seguido, como teve que explicar na sede da Polícia federal porque havia  deixado a cidade sem permissão. Por essas e outras, em sua compulsória aparição no programa Som Livre Exportação, na TV Globo,e m 4 de fevereiro (três dias antes de retornar a Londres), Caetano cantou somente o samba "Adeus Batucada" (de Sinval Silva). Um adeus que também valia para seus planos de voltar logo a viver em seu país."

Trecho do livro "Tropicália, A história de uma revelação musical", de Carlos Calado, relatando tempos que Caetano, certamente, não tem saudades neste seu aniversário de 71 anos.

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