E eu que fui feliz com você...

Por Cizzo Jardim

De você tenho visto e sabido de muito pouco, quase nada. Nada, pra ser sincero.

Desde que nos separamos - não da melhor forma, você sabe - nossas vidas seguiram caminhos que cada vez mais se encarregaram em se distanciar. Perdemos o contato, perdemos a admiração, perdemos o prazer um pelo outro. Sua presença me fazia mal. A minha, quanto a você, pouco sei dizer. Muito menos que um bom dia, nosso amor se transformou em uma página em branco. Sem lembranças, sem histórias, sem um passado.

Mas algo sempre me chamou a atenção. A tristeza em seu olhar era latente, perceptível a olho nu. A impressão que carregava dentro de mim, era que você estava feliz, estava satisfeita por tomar a decisão que tomou; como tomou.

Mas das minhas impressões à realidade - a pouca que eu tinha - tinha-se uma sensível difereança: pouco via alegria em seu olhar. Poucas vezes vi seu olhar. Mas das poucas, todas, todas me remetiam a esta conclusão, a esta certeza.

E os anos se passaram, e com eles, natural que é, passaram-se minhas dores. Pensei que tivesse perdido a capacidade de "te ver". A capacidade de "entrar em seu olhar". Pra mim, pouco importava. Você já não mais importava.

E eis que volto a te ver. Sem emoções, sem calafrios, sem pertubações. E eis que notei que ainda mantinha a "capacidade em te olhar".

Bonita como sempre, álbum de família e você... Você com o mesmo olhar de há muito. Um olhar triste, perdido, de alguém que não olhou pra si mesma. Não consegui ver um resquício, um indício de alguém que tivesse sorrido (acho que você nem lembra o que é isso).

Muito tempo se passou. Muita coisa mudou, mas seu olhar, "ah, este seu olhar" continua triste, continua vagando. E tenho plena autoridade pra falar do seu olhar. Como ninguém, tive seu olhar em minhas mãos. E quem ama, sabe ver, sabe olhar, sabe separar a felicidade da desfaçatez.

E nem desfaçatez encontrei em seu olhar. Mesmo com tanto tempo...


Cizzo Jardim é um inquieto amante à moda antiga.