Nem sempre "uma canção de amor".

Morro de Santa Teresa. Nunca uma produção artística representou tão bem o espírito da Itabuna City como "Dalva e Herivelto - Uma canção de amor":amores conturbados, arte e boemia.

Relações tumultuadas sempre serão mais ardentes, imprevisíveis, surpreendentes. O povo não fica feliz com amores felizes. A desgraça nas relações alheias saliva a curiosidade. Taí o grande lance em se retratar vida de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.

Dois fatos tornaram a tempestuosidade da vida de Dalva e Herivelto num dos capítulos mais ricos da história da "Época de Ouro do Rádio": um, bastante óbvio, o outro, menos comum. O primeiro, era o prestígio que os dois gozavam, pelo fato de serem artistas do primeiro time daquela época. O outro é que após uma dolorosa e inquieta separação, ambos se alfinetavam por meio de canções que a todo momento ganhavam 'respostas', que são um capítulo de destaque do rádio nacional.

Dalva e Herivelton viveram por 12 anos. De 1936, quando se casaram, até a separação, em 1947. Dalva conhece Herivelto no Cine Pátria em 1935. Em 1937, juntamente com Nilo Chagas, formam um trio e gravam entre outros sucessos "Praça 11", que só era preterida por "Amélia". César Ladeira, em seu programa na rádio Mayrink Vega utiliza pela primeira vez a expressão Trio de Ouro, que sofre sua primeira queda com a separação de Dalva e Heivelto em 1947. E aqui chegamos no grande momento. Herivelto conhece a aeromoça Lurdes Nura Torelli. E a relação dos dois chega ao fim. Por sua vez, as canções que Dalva cantava alfinetando Herivelto, ganham sucesso imediato. Transformam-na na Rainha do Rádio, tornando Herivelto secundário e detestado.


Herivelto já estava apaixonado por Lurdes. Mas, para tirar aquela onde de marido traído, e ao encontrar um bilhete de um caso de Dalva, decide abandoná-la de vez e passa e viver com Lurdes. Aí que surge "Caminhemos":

Não eu não posso lembrar que te amei
Nao eu preciso esquecer que sofri
Faça de conta que o tempo parou
E que tudo entre nós terminou


Caminhemos é datada de 1947. Essa data marca o começo das brigas públicas entre Dalva e Herivelto. Aí Dalva dá a resposta a Herivelto, dizendo que ela errou, mas o culpado era Herivelto que só vivia na boemia e que mulher não é feliz só com casa e comida. "Errei sim", composição de Ataulfo Alves que dá o troco em "Caminhemos". Diz a lenda que Herivelto quase foi às vias de fato com Ataulfo por causa de "Errei sim":

Errei sim
Manchei o teu nome
Mas foste tu mesmo o culpado
Deixavas-me em casa
Me trocando pela orgia
Faltando sempre
Com a tua companhia


Herivelto, que fazia sucesso menos pela cantoria e mais pelas composições, responde à Dalva com "Cabelos brancos":

Não falem dessa mulher perto de mim
Não falem para não aumentar a minha dor.



Aí Dalva vem com "Tudo acabado":

Tudo Acabado Entre Nós, Já Não Há Mais Nada
Tudo Acabado Entre Nós Hoje De Madrugada
Você Chorou e Eu Chorei, Você Partiu e Eu Fiquei
Se Você Volta Outra Vez, Eu Não Sei


Lembra do Morro de Santa Teresa? É um bairro maravilhoso do Rio, o berço da malandragem carioca que desemboca na Lapa. Pois é. Lá morava Lurdes Nura Torelli, a mulher que virou a cabeça de Herivelto e formou um dos triângulos amorosos mais tórridos da época do rádio. A amante, sempre a amante. A culpada pela separação de um dos casais mais queridos dos anos 40. A culpada por um dos períodos mais ricos e instigantes da música brasileira.

Dalva morre em 1972, ainda apaixonada por seu grande amor, com uma hemorragia interna, talvez proveniente de um câncer. Mas o ano de 1965 marca a vida de Dalva de forma profunda, quando num acidente de carro acaba por atropelar e matar 3 pessoas. Dalva nunca se recuperou, nem fisicamente, nem emocionalmente. Herivelto vive com Lurdes até 1990 quando a mesma vem a falecer. Herivelto morre em setembro de 1992, sendo que em 1986 foi homenageado sendo o tema da Escola de Samba Unidos da Ponte.

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