Me, myself and my books.

"Às vésperas do carnaval de 1966, fazia um calor do cão na Tijuca. Tim e seu amigo Peroba zanzavam tarde da noite pela Praça Afonso Pena quase deserta quando passaram por uma casa com todas as janelas fechadas, aparentemente sem ninguém, com uma bela mesa de vime e quatro cadeiras dando sopa na varanda e tiveram uma ideia. Tim havia sido chamdo para gravar com o conjunto Os Diagonais e precisava de uma graninha para comprar uns aditivos (grifo nosso) para usar na gravação. Primeiro levaram a mesa e duas cadeiras. Quando voltaram para pegar as outras duas cadeiras, foram presos por uma patrulha da PM e levados para a delegacia da Quinta da Boa Vista.

Não era novidade para um veterano de cinco prisões nos Estados Unidos. Surpresa foi a porrada que levou no pé do ouvido logo que chegou, antes mesmo de ser jogado no xadrez. Nunca tinha levado um peteleco em nenhuma delegacia ou cadeia americana, onde só o xingavam e ameaçavam. Aterrorizado, ouvia os gritos do Peroba na cela ao lado e os baques secos dos socos e chutes; se preparava para o pior.

"Agora é a tua vez, seu gordo ladrão", opolicial abriu a porta de cela e entrou com os colegas. Cercado, Tim levou uma saraivada de socos na cabeça, no estômago e na cara, cacetadas no corpo inteiro como um cão danado. Um carcereiro dormia em uma cama de campanha e, acordado pelos gritos, se levantou com muita raiva e disposição e derrubou Tim com um soco no ouvido que doeu mais que todas as porrasdas que já tinha levado. No cahão começou a ser chutado e pensou em fingir que desmaiava ou morria, mas acabou perdendo os entidos de verdade.

De olho roxo e moído de pancada, foi enquadrado no artigo 155 - furto sem violência nem grave ameaça - e condenado a dez meses de reclusão na penitenciária Lemos de Brito, na rua Frei Caneca.

Na cadeia, ouvia Jorge Ben, Wilson Simonal e Roberto Carlos o dia inteiro no rádio dos carcereiros, lia notícias sobre o sucesso deles em jornais e revistas velhas que circulavam no presídio. Chocado com a reportagem "Roberto Carlos compra seu oitavo carrão", jurou que quando saísse dali ia procurá-lo em São Paulo. Adotaria o nome artístico Tim, só Tim, sem sobrenome, e gravaria discos, faria shows, ficaria rico e famoso. Só precisava de um chance"

Trecho da biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta, Vale Tudo.

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